Belo Horizonte / MG - domingo, 05 de maio de 2024

Demências

Caduquice!

 

Não faz muito tempo, aliás, para nossos cérebros, tempo parece não existir... como nos engana!!! Mas, logo ali atrás, ouvíamos que fulano "tá caducando!”... Era o mesmo que estar perdendo a razão, o juízo, fazendo coisas erradas ou até mesmo ficando gagá. Pratrasmente era assim mesmo... fazer o que??? Bom, mas o tempo passa e aí começaram a falar que "esclerosou"... melhorou um pouquinho mas...mas...sem muito o que fazer...talvez aqui eu me lembre de um tal de Hidergyne* ou Hydergine* (?)...meu avô usou. O tempo não para e aí começou a aparecer um tal alemão chamado Alzheimer - que também é danado pra fazer esquecer as coisas... mas já tão nome aos bois... bom! E parece que essas coisas vão melhorando mesmo... já tem gente - alguns Dr. por aí - que já estão separando essas doenças do esquecimento...e já estão tratando....nós vamos falar é disso. Tá vendo, o tempo andou mesmo e foi bom demais...

 

O que ouvíamos é o mesmo dos tempos de agora, ou seja, esquecer... afinal envelhecemos. Como qualquer organismo vivo (e não vivos também), nos desgastamos no decorrer do tempo e pagamos preços variados por este processo do viver - inexoravelmente. Mas como ganhamos nesses últimos anos... da caduquice passamos às demências, ou seja, classificamos nossas perdas cerebrais e as abordamos com expectativas e resultados cada dia mais empolgadores. Somos hoje capazes de perceber nuances de nossas memórias e comportamento, outrora despercebidos... somos capazes de investigar precocemente, por várias abordagens e, identificar níveis de perdas cognitivas (ou seja, do cérebro funcionante) e também alterações comportamentais, prevendo e prevenindo seu curso declinante, muitas vezes mantendo a autonomia, independência e qualidade de vida daqueles que envelhecem mais patologicamente. Claro, envelhecer todos envelhecemos, mas uns mais, outros menos, digamos assim.

 

A grande explosão do conhecimento e comunicação nos dá hoje a facilidade de buscar, reter e repassar as informações necessárias trazendo benefícios a cada dia, com maior alcance na busca de um envelhecer mais "sadio”.  

 

Já por volta de nossos cinquenta e poucos anos - com alguma rigidez maior naqueles que efetivamente tem seu histórico familiar com casos mais declarados de "caduquice", começa a se fazer necessário um olhar mais dirigido às funções cognitivas, dentre elas memória, desempenho nas funções executivas, na busca  de  alterações comportamentais, na produtividade e até mesmo no humor e relacionamentos nos vários ambientes. Sem medo, não dói... muito melhor do que fazer um exame de próstata ou até mesmo uma mamografia....

 

O que vamos encontrar? Tomara que nada! Muitas vezes só uns conselhos para alguns excessos que a natureza permitiu até então, reduzir um pouquinho isso aqui e ali - "lembra-se do torresminho?". Ou talvez um remedinho... vamos lá, não é tão ruim assim, não é mesmo?

 

Todo o ensejo para que se comecem as "revisões" mais precocemente se deve ao fato de  sempre cairmos no velho ditado: quanto antes mais o que fazer, ou seja, tudo que se evidencia no princípio, mais opções para a resolução. Temos neste caminho a possibilidade do envelhecer com o que hoje chamamos de inicialmente déficit cognitivo leve, ou seja, lentificações e leves esquecimentos no conjunto de nossa cognição - não se esqueçam, cognição é o cérebro funcionando no conjunto de suas ações. Muitos chegarão aí e aí permanecerão com uma evolução lenta, com comprometimentos que mais seriam próprios da senilidade natural... os longevos estão aí...alguns até muito bem!

 

A partir desse ponto muitas vezes avançamos com possibilidades mais comprometedoras, muitas das quais resultado de patologias que já carregamos conosco há algum tempo e que durante anos, silenciosamente, foi comendo o nosso queijo, quero dizer, nosso cérebro - poderíamos citar aqui o diabetes, a hipertensão, a depressão, dentre outras, muitas das quais, como dito acima, silenciosamente... "não sinto nada!"; não tenho nada!”; "nunca precisei de médico!" e por aí vai. Muitas vezes outras surgem como que "do nada”, mas potencialmente de cargas genéticas e suas interações ambientais,  ainda não tão bem esclarecidas mas com certeza presentes...as chamadas demências, termo mais bem cunhado e cientifico...e bem menos assustador que caduquice ou ficar gagá, não é mesmo?

 

Encontramos aí "tipos e subtipos" diversos e até mesmo em combinação, dos processos demenciais - Alzheimer, vascular, Pick, Parkinson, Corpos de Lewy, dentre outros, que em suas propedêuticas (aquele trabalho detetivesco, Sherlockiano) muitas vezes - quanto mais precoce melhor - conseguimos identificar suas características e até mesmo enquadra-las em planejamentos terapêuticos que sem dúvida, hoje, constatamos grandes progressos, com o "breque" em suas evoluções, consequentemente ganhos na condição de vida, conforme dito, ganhos na qualidade de vida. São diversas as abordagens, seja com medicamentos...não mais só o "saudoso" Hidergyne*,  seja com Neuropsicologia e sua reabilitação cognitiva, seja com terapia ocupacional, seja com isso e com aquilo, o que importa é que -  yes, we can! Até que enfim, adentrando aos 90 e 100, quiçá aos 110... com qualidade e prazer de viver. Não dá mais para entregar a vida a própria sorte... a caduquice tá melhorando de vento em popa!